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domingo, 21 de março de 2010

Vida em assentamento judeu tem convivência diária com palestinos


Matéria Extraída do site G1.globo.com

Vida em assentamento judeu tem convivência diária com palestinos

Brasileiro residente em colônia próxima a Jerusalém relata seu cotidiano.
Defensor das colônias, guia turístico prega entendimento com povo vizinho.
O confronto entre israelenses e palestinos chegou a um novo momento de tensão nos últimos dias com a recente decisão da administração do premiê Benjamin Netanyahu em construir 1.600 casas na porção oriental de Jerusalém. A medida, além de causar críticas de toda a comunidade internacional, e até mesmo de tradicionais aliados como os EUA, também causou o início de uma nova onda de violência na região – já existe o temor de uma nova intifada.


Os palestinos iniciaram uma série de protestos e confrontos contra militares israelenses, o que resultou na morte de um manifestante neste sábado (20). No dia anterior, um imigrante tailandês que trabalhava em um kibutz instalado em uma região ocupada morreu atingido por um foguete que partiu de Gaza. O governo israelense mantém sua posição de continuar com a construção das casas, e não sinaliza mudar sua política de assentamentos.

Entretanto, mesmo durante os períodos de maior tensão e conflito, a convivência dos dois povos nesses territórios em disputa da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental é tão natural quanto necessária. O testemunho é de um judeu brasileiro que mora em uma colônia israelense próxima a Jerusalém. Em entrevista ao G1, ele dá sua versão sobre o dia a dia do seu assentamento: como seus habitantes vivem, se comportam, vivem e também se relacionam com as aldeias palestinas vizinhas.

O professor e guia turístico Marcel Berditchevsky mora há um ano e meio no assentamento de Ma’ale Michmas (distrito sob administração israelense de Judéia e Samaria), na Cisjordânia, com sua mulher e quatro filhos. Nascido no Rio de Janeiro há 47 anos, morou os últimos 15 anos em São Paulo e, desde 2009, está em sua terceira passagem pelo Oriente Médio. Nas outras duas oportunidades, prestou Exército e faculdade em Israel.

Uma Alphaville no deserto
Marcel descreve o local onde vive como uma “pequena versão de Alphaville”. Afirma que está no local tanto por razões ideológicas quanto pragmáticas. No primeiro caso, por morar próximo a uma área ligada à cultura judaica. Por outro, afirma que o local também é mais barato e oferece maior qualidade de vida para sua família.

Sua morada fica relativamente próxima de Jerusalém (15 km), possui pouco mais de 1.200 habitantes e fica muito próxima de uma aldeia palestina de mesmo nome.

Em sua opinião, os assentamentos israelenses, em especial o seu, não representam um obstáculo para as negociações de paz, nem provocam mal algum aos palestinos – ao contrário, afirma que os dois lados, em sua maioria, sabem conviver em harmonia. Segundo Marcel, o único atentado ocorrido por lá foi há 20 anos, causando a morte de um morador.

G1 – Por que resolveu voltar para Israel após passar os últimos 15 anos no Brasil?
Marcel –
Estava à procura de novos horizontes profissionais e resolvi investir na área de turismo. Jerusalém é um foco muito forte, porém é uma cidade muito cara de morar. Por isso procuramos um local mais afastado e com melhor qualidade de vida, porém que fosse perto da capital para podermos trabalhar.

G1 – Como é a vida em Ma’ale Michmas?
Marcel –
É como um condomínio fechado no estilo de Alphaville. Aqui vivem 250 famílias. Somos o que se pode chamar de uma comunidade “ortodoxa moderna”.

Seguimos as traduções judaicas, mas estamos antenados com o mundo. Não andamos só de terno ou capa preta, por exemplo. Somos formados em universidade, trabalhamos, não vivemos de ajuda do governo, vamos para o Exército e à faculdade. Ao mesmo tempo, descansamos nos sábados, apreciamos a culinária kosher e estudamos a Bíblia. Cada um aqui tem profissões diferentes: médicos, engenheiros, professores, donas-de-casa, empresários, etc.

As crianças não saem daqui, vão todo o dia a pé para a escola, andam uns 400 a 500 metros. Cada um de meus filhos tem um quarto grande, podem andar de bicicleta. Na minha casa, há um jardim com uma figueira e um pé de romã. Onde poderia ter isso em São Paulo, vivendo de educação ou de turismo? Só seu eu fosse um milionário.

95% das moradias são casas. Algumas tem dois andares. Com o mínimo de 90 m². Para ter isso em Tel Aviv, por exemplo, seria o triplo do preço. Aqui não é um kibutz, é considerado um assentamento comunitário. Cada um pode construir sua casa no padrão que quiser.

Foto: Marcel Berditchevsky

Jardim da casa da família Berditchevsky, no assentamento de Ma’ale Michmas, próximo de Jerusalém. Convivência da população adulta com palestinos de fora do assentamento é quase diária. (Foto: Marcel Berditchevsky/arquivo pessoal)

 G1 – É possível se locomover todos os dias para Jerusalém ou outras cidades, não é um local isolado militarmente?
Marcel –
Sim. Há pessoas que vão trabalhar em Tel-Aviv, outros em Be’er Sheva, mais ao sul, para qualquer parte. Somos um país pequeno.

Dentro dos assentamentos, a segurança é total. As pessoas entram e passam por uma guarita, igual como em Alphaville. Aqui não há muros, o local é cercado por uma grade com arames, um portão principal e um serviço de vigilância 24 horas. Do lado de fora, passamos por estradas comuns tanto judeus quanto a árabes. Procuramos sempre passar pelas principais estradas e evitar rotas alternativas.

Aqui onde moro também há uma aldeia árabe, a cinco quilômetros, de mesmo nome de nosso assentamento – eles preservaram muitos nomes históricos que estão na Bíblia.

G1 – Há convivência entre vocês do assentamento e os árabes?
Marcel –
O tempo todo. Por exemplo: comprei um armário e um funcionário árabe veio aqui montá-lo. Tive um problema hidráulico, a empresa de seguros trouxe dois funcionários para cá, um era árabe, outro não. Eles prestam seus serviços profissionais e vão embora. Boa parte da mão-de-obra de construção é palestina. Também trabalham como funcionários de centros comerciais, por exemplo. Já em Jerusalém, se encontra mais mão-de-obra palestina qualificada.

O que não há aqui, ao contrário de Jerusalém, é o convívio social. Lá eles vão nos mesmos shoppings, restaurantes e cinemas. Porém, a sete minutos de minha casa, há um centro comercial, fora do assentamento. Os judeus e árabes vivem de igual para igual, estacionam um do lado do outro, partilham das mesmas filas.

Os palestinos tem carros tão bons quanto os nossos, as mulheres se vestem tão chique quanto as nossas, e eles trabalham em diversas áreas profissionais, como em qualquer sociedade.

Nessas áreas em disputa, não há exército nas ruas como as pessoas pensam. Eles só ficam mais fixos nas zonas de passagem, que é uma espécie de pedágio, que faz a vistoria em todos os carros para evitar que alguém entre com armas. Eu, como guia , levo turistas de norte a sul, ando muito pelas estradas (em territórios disputados) a trabalho o tempo todo.

G1 – É razoável a possibilidade de ser abordado por grupos armados nas estradas?
Marcel –
É difícil acontecer. A não ser quando ocorre alguma movimentação política. No dia a dia não tem. Convivo com palestinos diariamente, eles não estão muito preocupados com isso. Eles querem ter conforto, ter uma vida boa e normal, crescer financeiramente. Esse é o padrão do palestino.

Se você perguntar para alguns, eles até preferem viver debaixo da soberania israelense. É democrática e oferece boa qualidade de vida. Melhor do que viverem sob uma liderança árabe tirana e ditatorial. Onde não há democracia nem liberdade, especialmente para as mulheres. Em Israel, as mulheres árabes podem viver livremente, andam sozinhas, de carro e se vestem como querem.

G1- Algum árabe já disse isso para você?
Marcel –
Lógico. Até para alguns árabes brasileiros que moram perto da gente, em Ramallah. Perguntava para alguns: se no caso de viabilizarem um Estado palestino, você vai preferir morar em um local administrado por palestinos ou israelenses? Nenhum pensa duas vezes: quer morar em um Estado israelense.

Mas ninguém pode falar isso em público, ele e sua família seriam perseguidos. É uma situação muito delicada. Muitos judeus compraram terras de árabes. Os que venderam tiveram de fugir do país, senão seriam exterminados por grupos extremistas. Ficariam marcados como colaboradores.

Por que eu não poderia continuar morando aqui (sob soberania palestina)? Poderia pedir um passaporte palestino, para mim não teria problema.

G1 - Você aceitaria continuar morando aí sob uma administração palestina?
Marcel –
Na teoria, não teria problema algum. No ponto de vista ideológico, muitas pessoas moram na Judéia e Sumária porque é um lugar bíblico, histórico, que pertenceu ao povo judeu há 2.000 anos.

Mas, na prática, ninguém quer morar sob a soberania árabe, pela experiência dos últimos cem anos. Se fosse há mil anos, beleza. Na época, os dois povos já coabitavam e o islã era tolerante, produzia cultura, era altamente evoluído. Hoje, isso acabou. Se eu for morar em um país árabe, o que vai me garantir viver em um local tranquilo? Já em Tel Aviv, qualquer árabe pode sair à rua quando quiser, rezar cinco vezes ao dia e ninguém vai reclamar com ele.

G1- Você já foi criticado por morar em um assentamento em território reivindicado?
Marcel –
Pelos árabes com quem convivo aqui, nunca. Já pelo lado israelense, sim. Em sua maioria, por militantes de esquerda pró-palestinos, comunistas radicais, que nos criticam, nos chamam de fascistas. Mas eles nunca puseram os pés aqui para conhecer nossa realidade.

Há um perfil de moradores que está aqui pela ideologia. Outro é pragmático, optou vir pela qualidade de vida.

G1 - Em qual desses dois perfis você se encaixa: no ideológico ou no pragmático?
Marcel –
Nos dois. Gosto dessa área. Sou da área de Educação e dei muitas aulas de História. E quando se fala em História da Bíblia, aqui são os lugares mais ricos para estudá-la.

Aqui se aprende aqui caminhando, a História está na palma de seu pé. Estou exatamente no lugar onde, na época do macabeus, reinava Jonhatan. Se eu virar a 50 metros para a esquerda ou para a direita, piso em lugares onde há 2 mil anos passaram vários personagens bíblicos. Fecho os olhos e me sinto mais próximo do que conheço e do que estudei.



Foto: Marcel Berditchevsky

Visão panorâmica da varanda da casa da família Berditchevsky, onde pode ser avistado o monte Scopus e parte de Jerusalém (Foto: Marcel Berditchevsky/arquivo pessoal)

G1 – Os palestinos reivindicam a área onde você mora. O que acha disso?
Marcel –
O povo palestino quer uma pátria, assim como o povo judeu fez há 60 anos. Essa área ainda será delimitada para eles. O palestino hoje não tem uma identidade única em relação à terra, já que é o mesmo palestino que está assentado na Jordânia, que é Palestina também. A identidade cultural do palestino não é diferente da jordaniana. Tem muitas famílias que estão separadas pelo rio Jordão, mas são da mesma etnia. Nós judeus também nos dividimos, mas temos um consenso em relação a uma pátria. Os países árabes, a Jordânia principalmente, não se preocupou em dar uma pátria ao palestino, ela fechou os olhos aos seus irmãos.

Que se delimite uma área, mas por que precisa ser aonde os judeus estão morando? Aqui tem terra de monte, pode se encontrar um denominador comum e criar essa área. O problema é outro, porque os palestinos estão espalhados em toda a região. Querem um Estado à custa do Estado de Israel, aí não funciona. Os dois lados tem de ser tolerantes.

G1 – Qual sua visão sobre o melhor caminho para se chegar ao fim do conflito?
Marcel –
Antes de tudo, é necessário haver uma tolerância de convivência. É interessante que exista paz, o comércio pode florescer, os serviços melhorarem. O que não pode ocorrer é entregar uma pátria à Palestina onde prevaleça conceitos como o do Irã, ou seja, anti-ocidente e anti-democracia. Nesse caso, não convém a Israel colocar um canhão mirando pra ele.

Qualquer israelense de sã consciência não tem problema em conviver em paz com os palestinos. Que aceite ser tolerante. No Brasil é assim. Por que aqui não?


Contexto
Os palestinos querem proclamar na Cisjordânia e na Faixa de Gaza um Estado soberano. Para isso, exigem uma retirada israelense de todos os territórios ocupados desde junho de 1967, incluindo Jerusalém Oriental.

Segundo a Autoridade Palestina, os palestinos querem "um Estado que tenha como base as fronteiras de 1967". "A superfície da Cisjordânia e da Faixa de Gaza é de 6.205 km2 e queremos estes 6.205 km2".

Israel conquistou, em 1967, a parte oriental (árabe) de Jerusalém e se apropriou dela, já que considera a cidade a capital eterna e indivisível do Estado de Israel.

A Autoridade Palestina quer converter Jerusalém Oriental na capital de seu futuro Estado e afirma que esta é uma condição não negociável.

Nas negociações de paz de Camp David, em 2000, o primeiro-ministro israelense da época, Ehud Barak, rompeu o tabu e propôs pela primeira vez compartilhar a soberania de Jerusalém Oriental, sugerindo que os bairros periféricos árabes passem a ficar sob controle palestino.

Barak também sugeriu dar um estatuto especial à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, lugar sagrado muçulmano construído sobre o antigo templo dos judeus.

Existem quatro milhões de refugiados palestinos, expulsos de suas casas quando foi criado o Estado de Israel em 1948.

Os palestinos sempre exigiram que Israel reconheça o direito ao retorno destas pessoas, conforme indica a resolução 194 da Assembléia Geral da ONU.

Israel se nega categoricamente a conceder esse "direito ao retorno" porque porá fim ao caráter judeu do Estado, mas está disposto a tolerar a instalação desses refugiados no futuro Estado palestino.
Controle da água 
Ao lado disso, Israel controla 80% da camada freática, ou primeira camada de água subterrânea, da Cisjordânia. Os palestinos querem que se reparta da forma mais equitativa e argumentam que sua população cresce mais rapidamente e, além disso, sofre uma falta crônica desse recurso natural indispensável.

Israel exige que os palestinos reconheçam o estado hebreu como o "Estado do povo judeu" em qualquer negociação de paz futura. Mas os palestinos consideram que aceitar esse ponto significaria renunciar ao direito de retorno para seus refugiados.

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